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A A | Trump rompe acordo com a Europa e apoia proposta de Putin por diálogo direto com ZelenskyPresidente dos EUA pede que Ucrânia aceite reunião antes de cessar-fogo exigido por Kiev e seus aliados europeus Menos de 24 horas depois de se alinhar aos aliados europeus em um pedido conjunto por cessar-fogo na guerra da Ucrânia, o presidente dos EUA, Donald Trump, mudou de posição e passou a defender a proposta do homólogo russo, Vladimir Putin, por negociações diretas com o líder ucraniano Volodymyr Zelensky antes da interrupção dos combates. As informações são do jornal The Washington Post. No sábado (10), os chefes de governo de Reino Unido, França, Alemanha e Polônia reuniram-se com Zelensky e exigiram que a Rússia aceitasse um cessar-fogo de 30 dias a partir desta segunda (12). Trump havia se somado à exigência, segundo os europeus. O general aposentado Keith Kellogg, enviado especial de Trump para os países em guerra, chegou a divulgar uma imagem da videoconferência e afirmou que a trégua iniciaria o processo de paz. No domingo (11), porém,, Trump surpreendeu ao defender publicamente que a Ucrânia aceite a proposta russa. “A Ucrânia deveria aceitar isso imediatamente”, escreveu em sua rede Truth Social. “Pelo menos assim será possível determinar se um acordo é viável e, caso não seja, os líderes europeus, e os EUA, saberão onde tudo está e poderão prosseguir de acordo!” Zelensky respondeu pouco depois, reiterando que ainda espera o cessar-fogo exigido pelos aliados, mas declarou estar pronto para encontrar Putin na quinta-feira (15), em Istambul. A manifestação pública de Trump, no entanto, enfraqueceu os esforços de Kiev e dos países europeus de manter uma frente unida contra Moscou. O presidente francês Emmanuel Macron reagiu pelas redes sociais: “Em Kiev e ao lado do presidente Trump, fizemos uma proposta clara: um cessar-fogo incondicional de 30 dias a partir de segunda-feira. Não pode haver negociações enquanto as armas falam. Não pode haver diálogo se, ao mesmo tempo, civis estão sendo bombardeados. Um cessar-fogo é necessário agora, para que as conversas possam começar. Pela paz.” O chanceler alemão Friedrich Merz foi na mesma linha: “O lado russo agora sinaliza disposição para dialogar. Isso é um bom primeiro passo. Mas está longe de ser suficiente. Esperamos que Moscou concorde com um cessar-fogo. Isso é essencial antes de iniciar um diálogo genuíno. As conversas não podem começar até que as armas se calem.” O general Kellogg também parecia não esperar a mudança de postura do presidente. Ele continuava promovendo o anúncio de sábado até as primeiras horas de domingo, quando republicou mensagens de Macron e do premiê da Nova Zelândia, Christopher Luxon, e comentou: “Até o primeiro-ministro da Nova Zelândia entende. Como o presidente Trump disse repetidamente: parem com as mortes!! Um cessar-fogo incondicional de 30 dias primeiro e, durante ele, avancem para discussões abrangentes de paz. Não o contrário.” Enquanto isso, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que conversou com Putin e está disposto a sediar as negociações. Para ele, este pode ser um “ponto de inflexão histórico” rumo ao fim da guerra. Apesar disso, o líder turco indicou apoio à exigência europeia de que as armas sejam silenciadas antes do início do diálogo. Se confirmado, o encontro entre Zelensky e Putin será o primeiro desde o início da invasão russa em larga escala em 2022. Ainda não está claro se o presidente russo participará pessoalmente, pois costuma deslegitimar o ucraniano, a quem acusa de liderar um regime “neonazista”. | A A |
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A A | Norte-coreanos ganham espaço na guerra da Ucrânia e viram peça-chave da propaganda russaMoscou e Pyongyang exibem cooperação militar em vídeos oficiais e celebram aliança com homenagens e atos públicos A Rússia e a Coreia do Norte intensificaram nas últimas semanas a divulgação de vídeos e reportagens que destacam a atuação de soldados norte-coreanos na guerra da Ucrânia. O material é veiculado por canais estatais dos dois países e integra uma campanha de propaganda voltada a exaltar a aliança militar e política entre Moscou e Pyongyang, conforme relato do The Wall Street Journal. As imagens, exibidas por emissoras como a estatal russa Vesti Nedeli, mostram militares norte-coreanos treinando com armamento russo, marchando em cidades não identificadas e participando de cerimônias conjuntas com soldados russos. Em um dos vídeos, um soldado norte-coreano e um russo fincam bandeiras no solo e se abraçam. Em outro, os norte-coreanos entoam um canto de exaltação ao líder Kim Jong-un. e acordo com autoridades da Coreia do Sul, cerca de 15 mil soldados norte-coreanos foram enviados à Rússia desde o ano passado. Desses, aproximadamente 4,7 mil teriam morrido ou ficado feridos, conforme dados da agência de inteligência sul-coreana. Em troca, Pyongyang recebeu equipamentos militares russos, incluindo drones, mísseis e tecnologia espacial. A presença das tropas foi mantida em sigilo até recentemente. Agora, os dois governos passaram a apresentar os militares norte-coreanos como símbolos da cooperação estratégica entre os países. Durante a parada militar do Dia da Vitória em Moscou, o presidente Vladimir Putin cumprimentou e abraçou generais norte-coreanos identificados como líderes das tropas enviadas à Rússia. O líder norte-coreano também tem utilizado a campanha de propaganda para fins internos. Em visita à embaixada russa em Pyongyang, ele classificou o envio de tropas como um ato legítimo de soberania e descreveu os soldados que retornaram feridos como “heróis e os mais altos representantes da honra nacional”. Parceria ampliadaAlém da colaboração militar, Rússia e Coreia do Norte vêm ampliando parcerias em áreas como agricultura, saúde e turismo. Segundo a imprensa estatal norte-coreana, cidades e vilarejos na região de Kursk, “libertados” por tropas russas, receberão nomes de soldados norte-coreanos em homenagem à participação no conflito. A Coreia do Norte enviou também cerca de 15 mil trabalhadores para a Rússia em 2024, segundo parlamentares sul-coreanos com base em informações de inteligência. Um medida voltada a amenizar o grave déficit de mão de obra no país, agravado pelas baixas na guerra e pela migração em massa de cidadãos russos. Embora os trabalhadores entrem no país com vistos de estudante — artifício usado para burlar sanções internacionais —, a ONU proíbe expressamente a exportação de mão de obra pela Coreia do Norte. Ainda assim, Moscou e Pyongyang desconsideram a restrição. De acordo com dados oficiais da Rússia, 8.6 mil vistos estudantis foram concedidos a norte-coreanos em 2024. No entanto, o número de estudantes efetivamente matriculados em universidades russas no ano anterior era de apenas 130. | A A |
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A A | ![]() Exército de Burkina Faso participa de massacre de civis fulanis, aponta Human Rights WatchMais de 130 pessoas foram mortas por militares e milícias aliadas em ofensiva contra supostos grupos extremistas Um massacre conduzido pelas Forças Armadas de Burkina Faso e por milícias pró-governo deixou mais de 130 civis da etnia fulani mortos na região de Boucle du Mouhoun, no oeste do país, durante o mês de março de 2025. A denúncia foi divulgada na segunda-feira (12) pela ONG Human Rights Watch (HRW), que classificou os crimes como potenciais crimes de guerra. Os assassinatos aconteceram durante a operação “Redemoinho Verde 2”, conduzida por forças especiais burquinenses e milicianos locais conhecidos como Voluntários para a Defesa da Pátria (VDPs). Os ataques teriam começado nos arredores da cidade de Solenzo e se estendido até a província de Sourou. Testemunhas relataram que centenas de moradores foram cercados e executados, enquanto tentavam fugir por áreas de mata. “A VDP atirava em nós como se fôssemos animais, enquanto drones sobrevoavam nossas cabeças”, contou um criador de gado fulani, de 44 anos, que perdeu oito parentes. A HRW entrevistou 27 sobreviventes, dois milicianos e quatro membros da sociedade civil entre 14 de março e 22 de abril. Os relatos, vindos de aldeias em Banwa e Sourou, indicam que os ataques foram coordenados com apoio de helicópteros e drones militares, o que demonstra, segundo a entidade, “controle direto de comando”. “Hoje, em toda a província, não há mais fulanis – todos fugiram, foram mortos ou levados como reféns”, afirmou um homem de 53 anos. O governo burquinense havia afirmado, em nota divulgada em 15 de março, que as forças de segurança haviam apenas repelido um ataque “terrorista” no dia 10 daquele mês, matando cerca de 100 combatentes. Segundo a nota, mulheres, crianças e idosos usados como “escudos humanos” foram resgatados. Autoridades disseram ainda ter prestado auxílio a 318 pessoas deslocadas na capital, Ouagadougou. No entanto, os relatos colhidos pela HRW apontam que não houve confronto com grupos extremistas na região na data mencionada. Após o massacre, o grupo Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), ligado à Al-Qaeda, iniciou uma série de ataques de retaliação. Em Tiao, na província de Sourou, uma mulher de 60 anos contou ter visto execuções em massa: “Todos os homens foram executados na frente do centro de saúde. Contei até 70 corpos”. Estima-se que pelo menos 100 civis tenham sido mortos pelos extremistas em resposta à ação militar anterior. A HRW afirma que o extermínio de civis por forças do governo, milícias aliadas e grupos extremistas islâmicos configura violações graves do direito humanitário internacional. “O governo precisa investigar imparcialmente essas mortes e processar todos os responsáveis”, disse Ilaria Allegrozzi, pesquisadora sênior da organização. “O escopo das atrocidades cometidas em Burkina Faso continua amplamente ignorado.” | A A |
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A A | Índia e Paquistão à beira do abismoRadiografia da escalada do conflito entre duas nações com poder nuclear. De um lado, ultradireita indiana quer a guerra. De outro, paquistaneses instigam o ódio como capital político. No meio, Caxemira: joguete e alvo de violações sistemáticas Por Tariq Ali, no Nuso | Tradução: Rôney Rodrigues A Índia e o Paquistão preparam-se para a guerra. O casus belli é, mais uma vez, a região em disputa da Caxemira. O controle desta região tem sido, desde 1947, o principal obstáculo para a normalização das relações entre os dois Estados. No dia 22 de abril, um grupo de militantes caxemires atacou e matou 26 turistas que desfrutavam da beleza dos prados floridos, dos riachos cristalinos e das montanhas nevadas de Pahalgam. A responsabilidade pelo atentado foi reivindicada por uma organização pouco conhecida chamada Frente de Resistência, que depois desmentiu sua própria declaração e afirmou não ter qualquer relação com o ocorrido. Isso representou uma afronta pessoal para Narendra Modi (cujo histórico inclui ter liderado, como ministro-chefe daquela região, a matança de cerca de 2.000 civis no massacre de Gujarat em 2002, e ter sido, por muito tempo, defensor de pogroms antimuçulmanos). Modi, um nacionalista hindu de extrema-direita que atualmente cumpre seu terceiro mandato como primeiro-ministro da Índia, havia declarado anteriormente que não existia mais nenhum problema grave na Caxemira. Sua solução final — revogar o status autônomo da região em 2019 — havia sido bem-sucedida. Nada justifica o massacre dos turistas de Pahalgam, e muito poucos caxemires ou muçulmanos indianos apoiariam ações desse tipo. Mas é necessário conhecer o contexto histórico para entender a situação geral da província. Até Israel tem um jornal crítico como o Ha’aretz. A Índia de Modi, não. A Caxemira continua sendo um tema intocável. Esta província de maioria muçulmana nunca pôde decidir seu próprio destino, como prometeram os líderes do Partido do Congresso no momento da independência. Em vez disso, foi dividida entre as novas repúblicas da Índia e do Paquistão após uma breve guerra na qual o comandante britânico do exército paquistanês se recusou a participar, deixando que uma força irregular enfrentasse as tropas regulares indianas. O conhecido pacifista Mahatma Gandhi abençoou a invasão indiana. Os artigos 370 e 35A da Constituição indiana deveriam garantir o status especial da Caxemira, entre outras coisas negando aos não-caxemires o direito de comprar propriedades e estabelecer-se ali, mas esses artigos foram revogados. Isso se combinou com uma repressão brutal a qualquer sinal de descontentamento, transformando a Caxemira em um estado policial com presença militar constante e ostensiva. Assassinatos e estupros eram comuns. E foram encontradas valas comuns. Corajosos cidadãos indianos (como a escritora Arundhati Roy, o ensaísta Pankaj Mishra e outros) denunciaram incansavelmente esses crimes. A antropóloga Angana Chatterji citou inúmeros exemplos descobertos durante seu trabalho de campo entre 2006 e 2011. “Muitos foram obrigados a testemunhar o estupro de mulheres e meninas de sua família. Uma mãe, que supostamente recebeu ordens para assistir ao estupro de sua filha por soldados, implorou que libertassem a menina. Eles se recusaram. Então, ela suplicou que não a obrigassem a assistir e pediu para ser retirada da sala ou morta. O soldado colocou uma arma em sua testa, disse que concederia seu desejo e a matou a tiros antes de prosseguir com o estupro de sua filha”. Mas esse ato não foi considerado ilegal. A Lei das Forças Armadas (Poderes Especiais) de 1958 concede impunidade aos defensores uniformizados do Estado central em “zonas de conflito”, ratificada pelo Supremo Tribunal da Índia. A estratégia de Modi em 2019 foi inundar a Caxemira de tropas indianas, impor bloqueios, prender líderes locais e jornalistas e incutir terror suficiente na população para garantir que não houvesse protestos que provocassem objeções das potências ocidentais. O objetivo era transformar o vale no centro leiteiro de todo o país. A repressão parecia ter funcionado — até agora. O governo indiano está convencido de que os assassinatos foram orquestrados pelo exército paquistanês. Até agora, não foram apresentadas provas, mas a acusação é mais plausível do que a resposta paquistanesa de que se tratou de uma operação de falsa bandeira. Para aumentar a confusão, em 24 de abril, o ministro da Defesa do Paquistão, Khwaja Asif, confirmou na televisão britânica que o Paquistão tem um longo histórico de treinamento e financiamento desse tipo de organizações terroristas, afirmando: “Há três décadas fazemos esse trabalho sujo para os Estados Unidos”. Alguns dias depois, Asif também previu uma “incursão” indiana no Paquistão, para depois retratar-se. Políticos indianos de quase todos os matizes estão pedindo guerra. Shashi Tharoor, membro do Partido do Congresso e ex-alto funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU), declarou: “Sim, haverá derramamento de sangue, mas mais deles do que nosso”. O ânimo popular exige uma guerra de vingança curta e contundente. Fizeram referências com aprovação ao genocídio de Israel em Gaza, mas é mais provável que sigam outro modelo. Depois que Israel bombardeou a embaixada iraniana em Damasco em abril de 2024, a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) apressou-se para organizar uma resposta cuidadosamente controlada do Irã, com as defesas aéreas americanas, francesas, britânicas e jordanas na região prontas para abater os drones e mísseis iranianos que se aproximassem. O Exército e a Força Aérea da Índia estão atualmente planejando um ataque, mas poderia ser do tipo iraniano. Generais aposentados gabam-se dos estoques de drones em mãos indianas. A medida mais extrema em debate é ocupar a Caxemira controlada pelo Paquistão e uní-la à sua parte irmã ocupada pela Índia. As ameaças de cortar o fornecimento de água ao Paquistão são pura bravata, e a réplica do deputado paquistanês Bilawal Bhutto – “se a água não fluir, seu sangue fluirá” – foi imatura e estúpida, mesmo para um ex-ministro das Relações Exteriores. A imprensa indiana afirmou que um discurso público inflamado proferido em 17 de abril diante da diáspora paquistanesa pelo general e chefe do exército do Paquistão, Asim Munir, foi o sinal para Pahalgam. Outros, incluindo um ex-major do Exército paquistanês, Adil Raja, afirmam que o ataque foi uma iniciativa pessoal de Munir para reforçar sua própria posição e pavimentar o caminho para uma nova ditadura militar. Aparentemente, a agência de inteligência do Paquistão se opôs a isso. Contenção de danos ou verdade? É difícil dizer, embora o discurso horrendo de Munir ofereça algumas pistas. O discurso pretendia deixar claro aos paquistaneses expatriados ricos que o Exército governa o país. É provável que parte do público tenha sido contratado para ovacionar os comentários inusualmente grosseiros, rudes e ignorantes do general. Nenhum ditador militar paquistanês jamais havia falado assim. O general Ayub Khan, formado em Sandhurst, era moderado e secular. O general Yahya Khan era muito divertido quando bêbado e evitava aparecer em público. O general Zia-ul-Haq era um sádico religioso, mas estava desesperado para chegar a um acordo com a Índia: denunciar hindus não era seu estilo. O general Musharraf era essencialmente laico, relativamente culto e muito interessado em uma aproximação com a Índia. A tentativa do general Munir de se passar por uma versão paquistanesa fardada de Modi foi um fracasso estrondoso. Ele fez três afirmações, todas repletas de repugnantes mentiras nacionalistas. Em primeiro lugar, afirmou que os hindus eram e sempre haviam sido o inimigo, e que os muçulmanos nunca poderiam conviver com eles. Esta é a inversão da afirmação de Modi de que todos os muçulmanos indianos são convertidos do hinduísmo e devem retornar à antiga fé. Alguém deveria ter educado o general: os muçulmanos coexistiram com os hindus e, mais tarde, com os siques por quase 12 séculos antes de 1947. O período mogol (odiado tanto por Modi quanto pelos fundamentalistas islâmicos) deu origem a exércitos integrados por generais e soldados hindus e muçulmanos que defendiam o império criado pelos muçulmanos. O islã se espalhou tão rapidamente que muitas tradições e rituais pré-islâmicos da África Ocidental, Europa, Índia, China e Sudeste Asiático foram incorporados à nova religião. A versão exclusivamente wahabista da história que é ensinada hoje no Paquistão é estreita e falsa. Houve muitos casos de culto conjunto a santos por hindus e muçulmanos em algumas partes da Índia pré-britânica e mesmo depois. Esta versão absurda da história islâmica prejudica enormemente os paquistaneses, tanto dentro quanto fora do país. É uma das razões pelas quais tantos jovens muçulmanos são incapazes de combater a islamofobia. O general Munir referiu-se à Caxemira da seguinte maneira: “Será nossa veia jugular, não a esqueceremos, não abandonaremos nossos irmãos caxemires em sua luta histórica”. Na realidade, a maioria dos caxemires vive sob domínio indiano desde agosto de 1947. A Caxemira controlada pelo Paquistão não se encaixa na metáfora anatômica do general. Poderia ser mais apropriadamente comparada a um ducto hepático redundante do general Yahya. A terceira referência, ultra-emocional, dizia respeito à inviolabilidade da “teoria das duas nações”, que era a base ideológica do Paquistão. Mas esta foi violada pelo Exército paquistanês em 1970, quando se recusou a reconhecer o fato de que os bengaleses do Paquistão Oriental (posteriormente Bangladesh) haviam obtido a maioria absoluta nas eleições daquele ano. Foi a recusa do general Yahya em aceitar o resultado que provocou enormes massacres de muçulmanos bengaleses pelas mãos de seus supostos irmãos do Paquistão Ocidental, seguidos por uma guerra civil e a intervenção indiana. Esse foi o fim da teoria das duas nações. Ao contrário do que o general disse à sua audiência, longe de salvar o Paquistão, o alto comando do Exército o levou à beira da ruína política e econômica. Deveria ter sido fornecida aos expatriados reunidos diante do general uma lista dos chefes do Exército paquistanês que se aposentaram como multimilionários. Aceitemos, para efeitos deste debate, que o ataque de Pahalgam foi uma operação paquistanesa. Por que agora? Funcionários paquistaneses alegam que a Índia está por trás do Exército de Libertação do Baluchistão (BLA), uma guerrilha nacionalista que busca a independência desta província do sudoeste do Paquistão. A ação mais ousada do BLA ocorreu em 13 de março, quando descarrilaram um trem no remoto passo de Bolán e tomaram passageiros civis como reféns. Suas unidades têm atacado regularmente acampamentos militares e estações ferroviárias, mas esta atrocidade em particular foi meticulosamente planejada. O Paquistão está convencido – e muitos observadores concordam – de que a Índia armou e financiou o BLA. Além disso, a especulação sobre a atividade naval chinesa no porto de Gwadar leva alguns a suspeitar que os Estados Unidos também podem estar entre os financiadores do grupo. Dezenas de trabalhadores chineses foram mortos por nacionalistas balúchis. O panorama é complexo e o Paquistão está longe de ser inocente na criação deste coquetel letal. Mas como descobriram os nacionalistas curdos, não existe verdadeira independência no mundo atual: os curdos se aliaram a Israel e aos Estados Unidos no Iraque e na Síria. O BLA enfrenta dilemas similares; expulsar a China de Gwadar não pode ser seu único objetivo. Os velhos nacionalismos progressistas e descolonizadores desapareceram há muito tempo. Para os balúchis, a escolha se reduz ao Paquistão ou à Índia, mais seus respectivos aliados. Como nas regiões curdas, os líderes designados enriquecerão enquanto o povo sofre. O Baluchistão provavelmente não será diferente, e seus minerais e recursos subterrâneos serão explorados por gigantes multinacionais. Basta olhar para o Iraque. O ataque em Pahalgam, na Caxemira, foi uma retaliação pelo atentado no passo de Bolán um mês antes? É possível. Uma guerra resolverá algo, mesmo que a Índia consiga anexar uma pequena porção adicional da Caxemira que ocupa? Duvido. Nos bastidores, a Índia ofereceu ao Paquistão um acordo com os seguintes termos: “Aceitemos o status quo e reconheçamos a Linha de Controle (fronteira) como permanente. Depois assinemos um tratado de paz, abramos o comércio, eliminemos as restrições ao críquete paquistanês e implementemos viagens sem visto”. Fui informado de que o Exército paquistanês estava tentado, mas também dividido sobre esta questão. A facção que considera a Caxemira como “nossa veia jugular” foi a que prevaleceu. Para a maioria dos caxemires, a melhor solução seria um estado autônomo unificado, com suas necessidades de segurança garantidas tanto pelo Paquistão quanto pela Índia, e a reinstituição dos artigos 370 e 35A na Constituição indiana. Bom demais para ser verdade? Talvez. Mas as alternativas são inatingíveis ou piores. Durante os últimos protestos contra o governo autoritário de Modi na Índia, assim como ocorreu após a queda da ditadura militar de Muhammad Zia-ul-Haq no Paquistão, em 1988, estudantes e outros cidadãos – hindus, muçulmanos, cristãos e siques – reuniram-se em ambos os lados da fronteira para recitar um poema de Faiz Ahmad Faiz, denunciado pelos seguidores de Modi como “anti-hindu”: Nós o veremos / Certamente o veremos / o dia prometido / gravado em pedra no início dos tempos / Nós testemunharemos o dia / em que a poderosa montanha de opressão e crueldade / será arrasada como algodão / quando sob nossos pés, os dos oprimidos / a terra se moverá, pulsará e tremerá / Quando sobre as cabeças dos que governam / trovões e relâmpagos brilharão e rugirão / E restará apenas o nome de Deus / que está ao nosso redor e oculto de nós / que é tanto o espetáculo quanto a plateia / E erguer-se-á o lema: “Eu sou a verdade” / E isso significa eu, e isso significa você / E o povo de Deus finalmente governará / E isso significa eu, e isso significa você / Certamente nós veremos esse dia. | A A |
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