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Holanda Projeta Navios, Brasil Carrega Containers    

4 lições da indústria naval holandesa que o Brasil deveria aprender

Por que países ricos fazem navios e países pobres carregam caixas

Olá!

Você já se perguntou por que a Holanda, um país menor que o estado de Santa Catarina, consegue projetar e construir alguns dos navios mais avançados do mundo, enquanto o Brasil, com toda sua costa e recursos, se limita a carregar containers com commodities?

A resposta revela uma das diferenças mais cruéis entre economias desenvolvidas e em desenvolvimento. Países ricos como Holanda, Dinamarca e Noruega dominam o design, a engenharia e a tecnologia naval - criando produtos complexos que geram empregos qualificados e alta margem de lucro.

Enquanto isso, países como o Brasil se especializam no transporte de matérias-primas brutas, competindo apenas por volume e preço baixo. A diferença não está apenas nos lucros, mas no tipo de conhecimento, empregos e capacidades tecnológicas que cada estratégia desenvolve.

Um país que projeta navios cria ecossistemas de engenharia, inovação e manufatura avançada. Um país que apenas carrega commodities fica preso em atividades de baixo valor agregado.

Hoje vou mostrar exatamente como essa dinâmica funciona e por que ela explica muito sobre nossa posição no mundo.

Vamos analisar cada aspecto dessa equação.

A Holanda não nasceu fazendo navios complexos - ela se reinventou estrategicamente.

A trajetória naval holandesa não foi um acaso da natureza ou vantagem geográfica automática.

Na década de 1960, o país enfrentava o declínio de sua indústria naval tradicional devido à concorrência asiática em navios convencionais. A resposta foi brilhante: em vez de competir em volume, os holandeses se especializaram em navios altamente tecnológicos e de nicho. Desenvolveram expertise em dragagem, embarcações offshore para petróleo, navios científicos e navios especializados para energia eólica marítima. Empresas como Damen Shipyards e Royal IHC se tornaram líderes mundiais não pelo tamanho dos navios, mas pela sofisticação tecnológica. A estratégia funcionou porque criou barreiras de entrada baseadas em conhecimento, não em recursos naturais.

Hoje, quando o mundo precisa de um navio para instalar turbinas eólicas no mar ou de equipamentos para projetos portuários complexos, recorre à engenharia holandesa. É um mercado pequeno em volume, mas gigante em margem e valor.

Enquanto isso, o Brasil regrediu de uma economia diversificada para um mero exportador de commodities.

Nos anos 1980, o Brasil havia conquistado um nível intermediário de complexidade produtiva, exportando máquinas, autopeças e produtos químicos.

Nossa indústria naval chegou a construir plataformas petrolíferas e navios para a Petrobras. Mas desde os anos 1990, nossa economia regrediu sistematicamente. Voltamos a nos concentrar na produção e exportação de commodities como minério de ferro, soja e petróleo. O Brasil de hoje tem praticamente o mesmo nível de complexidade produtiva dos anos 1980 - ou seja, três décadas de estagnação tecnológica. Nossa indústria naval, que chegou a ter ambições globais, foi desmontada. Hoje importamos até mesmo navios básicos.

A consequência é dramática: enquanto a Suécia, com apenas 5% da nossa população, exporta 60% do que exportamos, isso acontece porque eles produzem bens complexos (Volvo, Scania, Ericsson) e nós produzimos commodities.

A diferença de produtividade e valor por habitante é abissal.

O segredo dos países desenvolvidos não são recursos naturais, mas redes produtivas complexas.

A Coreia do Sul é o exemplo mais impressionante de como se constrói uma indústria naval de classe mundial do zero.

Nos anos 1970, o governo coreano concedeu monopólio na produção de plataformas offshore à Hyundai e financiou tanto a construção dos navios quanto a própria empresa de navegação. Lucros só apareceram mais de uma década depois, mas o país perseverou. Hoje, a Coreia domina a construção de navios complexos - petroleiros gigantes, navios porta-containers de última geração e embarcações de GNL.

A China seguiu trajetória similar desde 2006, considerando o setor naval como estratégico e destinando altos volumes de subsídios. Começaram com navios simples e de menor qualidade, mas vêm se sofisticando rapidamente. O padrão é claro: países desenvolvidos criam redes produtivas densas, onde uma indústria naval competitiva requer fornecedores de aço especializado, sistemas eletrônicos avançados, motores de alta performance e centenas de outros componentes sofisticados.

Essas redes geram transbordamentos tecnológicos que beneficiam toda a economia.

A complexidade econômica determina se um país fica rico ou pobre - e o Brasil escolheu ser simples.

Produtos complexos como navios, aviões e automóveis exigem o que os economistas chamam de "capacidades produtivas" - conhecimentos específicos que se acumulam ao longo de décadas em empresas, universidades e redes de fornecedores.

Uma vez desenvolvidas, essas capacidades se tornam muito difíceis de replicar e geram vantagens competitivas duradouras. Por isso países que dominam bens complexos mantêm altos salários e padrões de vida. Em contraste, commodities podem ser produzidas por qualquer país com os recursos naturais adequados.

A competição é por volume e preço, comprimindo margens eternamente. Quando o Brasil escolhe ser um exportador de soja e minério, está optando por competir num mercado onde não há diferenciação possível.

A diferença é visível na pauta exportadora. Enquanto o Brasil em 2023 concentra suas exportações em commodities básicas - soja (13,6%), minério de ferro (7,85%) e petróleo (10,72%) -, a Holanda diversifica em produtos e serviços complexos, com destaque para o setor de negócios (22,9%) que inclui serviços de engenharia naval e projetos portuários.

Nossa soja compete com a soja argentina, americana e ucraniana. Nosso minério compete com o australiano e o chinês. Já um navio holandês especializado em energia eólica não tem 50 competidores diretos no mundo - talvez tenha três ou quatro.

A escassez de capacidades gera poder de precificação e margens robustas.

O custo de carregar containers: gerações perdidas

A diferença entre projetar navios e carregar containers vai muito além dos lucros imediatos.

Países que dominam indústrias complexas criam ecossistemas de inovação onde engenheiros, designers e tecnólogos desenvolvem soluções cada vez mais sofisticadas. Universidades se alinham com demandas industriais reais. Startups surgem para resolver problemas específicos. Trabalhadores desenvolvem habilidades valiosas globalmente.

O cluster marítimo holandês exemplifica perfeitamente esse fenômeno. Com faturamento de €95 bilhões em 2022 e crescimento constante desde 2012, envolve 22.870 empresas distribuídas estrategicamente pelo país, criando redes densas de conhecimento que se reforçam mutuamente.

Para dimensionar o impacto: esse cluster gera €50,4 bilhões em valor agregado direto, equivalente a 5,3% de todo o PIB holandês. Incluindo efeitos indiretos, chega a €72,4 bilhões - impressionantes 7,5% do PIB nacional. Emprega diretamente 305 mil pessoas especializadas (74% em tempo integral, concentradas entre 26-55 anos) e, contando efeitos multiplicadores, impacta 575 mil trabalhadores - 5,7% do emprego total do país.

Mais relevante ainda: esse impacto vem crescendo aceleradamente, saltando de 6,2% do PIB em 2020 para 7,5% em 2022. É o resultado de décadas de investimento estratégico em capacidades complexas.

Todos esses dados você encontra no relatório “Blue Economy Matirime Monitor 2023”.

Já países especializados em commodities ficam presos em atividades que geram pouco aprendizado tecnológico.

Um porto que carrega soja precisa de estivadores e operadores de guindastes - empregos importantes, mas que não transferem conhecimento para outros setores.

Uma fábrica de navios precisa de engenheiros navais, especialistas em materiais, projetistas de sistemas complexos e técnicos altamente qualificados. Esses profissionais levam conhecimento para automóveis, aviação, energia e outras indústrias.

A consequência de longo prazo é que países como Brasil formam gerações inteiras de trabalhadores em setores de baixa qualificação, enquanto países como Holanda desenvolvem gerações de inovadores e criadores de tecnologia.

Curiosamente, enquanto o Brasil na década de 1980 tinha um parque industrial mais diversificado que a Coreia do Sul, hoje nos encontramos exportando principalmente commodities enquanto a Coreia produz alguns dos bens mais sofisticados do mundo.

Este paradoxo de como uma economia com enormes vantagens iniciais perdeu dinamismo enquanto outras avançaram rapidamente desafia as explicações econômicas convencionais sobre vantagens comparativas e revela falhas estruturais profundas em nosso modelo de desenvolvimento que vão muito além das políticas de curto prazo.

Brasil ainda pode mudar essa trajetória, mas precisa de estratégia, não só recursos.

A boa notícia é que a posição de um país na economia global não é permanente.

A Coreia era mais pobre que o Brasil nos anos 1960.

A China era considerada retardatária na indústria naval nos anos 2000.

Ambos decidiram investir estrategicamente em capacidades complexas e sustentaram esses investimentos por décadas, mesmo diante de prejuízos iniciais.

O Brasil tem recursos, mercado interno, universidades e tradição industrial para fazer essa transição. Mas precisa de uma estratégia nacional de longo prazo que priorize o desenvolvimento de indústrias complexas sobre a extração de commodities. Isso significa investir em educação técnica, pesquisa aplicada, financiamento de longo prazo para indústrias nascentes e políticas que incentivem a sofisticação produtiva.

Países como Dinamarca produzem os maiores navios do mundo. A Suécia produz os caminhões Volvo e Scania que rodam nas estradas brasileiras. Não há nada de natural nessa liderança - é resultado de décadas de investimento consciente em capacidades produtivas.

O Brasil pode escolher fazer o mesmo, ou continuar sendo o país que carrega os produtos que outros inventaram.

Um grande abraço!

Paulo Gala

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BLOG DO PAULO GALA

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ndústria perde ritmo e deve crescer apenas 1,7% em 2025, aponta CNI

Déborah Souza

A CNI reduziu a projeção do PIB industrial de 2% para 1,7% em 2025, pressionado por juros altos e incertezas externas. Já a agropecuária teve estimativa elevada de 5,5% para 7,9%, reforçando seu papel como motor da economia.

    Com a indústria impactada pelos juros elevados e pelas incertezas externas, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) revisou a projeção do PIB industrial em 2025, no Informe Conjuntural do 2º trimestre, reduzindo de 2% para 1,7%. Em contrapartida, a agropecuária ganhou ainda mais peso no desempenho da economia, a estimativa de crescimento do setor passou de 5,5% para 7,9%, consolidando o campo como principal motor da atividade no próximo ano.

Segundo a CNI, o desempenho do mercado de trabalho também deve ajudar a sustentar o crescimento de 2,3% do PIB, mesmo diante do impacto das tarifas americanas sobre as exportações brasileiras.

Para o diretor de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles, a manutenção da projeção geral do PIB esconde um cenário mais preocupante. “Quando a gente abre os números, aí sim a gente identifica um problema e uma composição pior. Para a indústria, realmente está decepcionando. A composição não é tão positiva, a indústria está sofrendo muito, cada vez com projeção de crescimento menor e a projeção de crescimento para o PIB não se altera, porque a safra agrícola se mostrou até um pouco maior do que nós estávamos imaginando”, afirma.

Telles destaca ainda que as tarifas impostas pelos Estados Unidos, embora relevantes, não são hoje o principal entrave ao setor industrial. “O que tem impactado realmente são as taxas de juros, principalmente, e o volume enorme de importações”, disse.

Cenário da indústria: exportações sob pressão

O cenário externo também adiciona incertezas. Embora o volume exportado tenha subido 2% entre janeiro e julho, a queda de preços no mesmo período reduziu o valor em dólares. Com isso, a CNI revisou para baixo a previsão de exportações brasileiras em 2025, de US$ 347,3 bilhões para US$ 341,9 bilhões, uma queda de US$ 5,4 bilhões em relação ao primeiro trimestre.

O tarifaço imposto pelos Estados Unidos deve agravar a situação. A CNI alerta que a taxa de 50% sobre parte das vendas brasileiras para o mercado norte-americano pode reduzir de forma significativa o fluxo da indústria de transformação.

Cenário da indústria: avanço moderado

A indústria de transformação, que cresceu 3,8% em 2024, terá um avanço mais modesto neste ano, com expectativa de 1,5%. O resultado reflete juros elevados, aumento das importações e queda prevista nas exportações.

“Quase toda essa redução da projeção de crescimento para a indústria se deve à redução da projeção de crescimento da indústria de transformação. É um segmento que precisa ser muito olhado, porque tem uma concorrência muito grande com produtos importados. As importações estão crescendo enormemente e, mesmo com todas as políticas acertadas, como a nova indústria Brasil, o plano Brasil mais produção, depreciação acelerada, uma série de medidas, ainda assim o crescimento da indústria de transformação está se reduzindo muito em relação ao de 2024”, ressalta Telles.

Já a construção deve crescer 2,2%, puxada pela continuidade de obras lançadas no ano passado e pelo programa Minha Casa, Minha Vida. A indústria extrativa também deve ganhar força, com expectativa de alta dobrada de 1% para 2%, impulsionada pela produção de petróleo.

Cenário da indústria: agro e trabalho no comando

Com clima favorável, produção recorde e forte demanda externa, a agropecuária deve liderar a economia em 2025, crescendo 7,9%. O setor de serviços, por sua vez, terá expansão modesta de 1,8%, sustentada pelo mercado de trabalho aquecido e pela elevação da massa salarial.

A taxa de desocupação deve cair para 6%, o menor nível histórico pelo segundo ano consecutivo, enquanto a massa de rendimento real deve crescer 5,5%.

Cenário da indústria: juros e inflação

A inflação deve encerrar o ano em 5%, acima dos 4,8% de 2024, mas em trajetória de desaceleração. Diante desse cenário e das incertezas externas, a CNI prevê que o Banco Central manterá a taxa Selic em 15% ao ano até o fim de 2025.

Cenário da indústria: contas públicas

A CNI projeta que o governo vai cumprir a meta fiscal. O déficit primário deve ficar em R$ 22,9 bilhões, equivalente a 0,2% do PIB, abaixo do limite estabelecido de R$ 31 bilhões. Ainda assim, a dívida pública continuará em trajetória de alta, passando de 76,5% para 79% do PIB em 2025.


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Mais de 75% das exportações brasileiras aos EUA enfrentam tarifas extras

Tácido Rodrigues

Levantamento da CNI mostra três em cada quatro produtos das exportações brasileiras aos Estados Unidos — principal mercado da indústria de transformação nacional — estão sujeitos a tarifas adicionais, fruto de medidas adotadas por Trump.

    

Levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que a maior parte das exportações brasileiras aos Estados Unidos — principal mercado da indústria de transformação nacional — está sujeita a tarifas adicionais, fruto de medidas protecionistas adotadas pelo presidente Donald Trump.

Segundo o estudo, 77,8% da pauta exportadora brasileira para os EUA enfrentam algum tipo de taxação extra, incluindo tarifas de 10%, 40% e as previstas na Seção 232 do Trade Expansion Act, que impõe alíquotas de 25% e 50%. Essas sobretaxas afetam especialmente produtos como aço, alumínio, cobre, veículos e autopeças.

“Os setores com maior número de produtos exportados afetados pela sobretaxa combinada de 50% seriam: vestuário e acessórios (14,6%), máquinas e equipamentos (11,2%), produtos têxteis (10,4%), alimentos (9,0%), químicos (8,7%) e couro e calçados (5,7%)”, aponta a entidade.

A gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI, Constanza Negri, estima que a cobrança por parte dos norte-americanos poderá ter um impacto negativo na economia brasileira. “Em um cenário de aumento de alíquota de 50% adicional para as exportações brasileiras, estamos falando de um impacto negativo no PIB brasileiro de R$ 20 bilhões e nos empregos para a indústria em torno de 30 mil”, afirma.

A análise foi feita com base em dados da United States International Trade Commission (USITC), usando o código tarifário norte-americano em nível detalhado (10 dígitos), o que permitiu identificar com precisão os itens afetados pelas diferentes ordens executivas emitidas nos últimos anos.

Plano de contingência

Para José Velloso, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), o plano de contingência que está sendo elaborado pelo governo brasileiro para dar sobrevida às empresas é tão importante quanto as medidas adotadas durante a pandemia de covid-19.

“As medidas em desenvolvimento pelo governo brasileiro são cruciais para dar fôlego às empresas, abrangendo aspectos como capital de giro, crédito e questões tributárias e trabalhistas”, ressalta. O segmento representa 20% do total de US$ 18 bilhões em produtos brasileiros impactados pela medida americana.

Constanza Negri acrescenta que no caso do setor de máquinas e equipamentos, embora vários produtos apareçam na lista de isenções, a não tributação só se dará no caso em que os produtos sejam utilizados para o setor de aviação civil.

“O setor de máquinas e equipamentos é um dos principais na nossa pauta de exportação para os Estados Unidos, que ainda está sujeito a alíquota de 50%, em alguns casos, se a gente for lembrar que o Brasil já é sujeito a uma alíquota de 10% na medida que foi anunciada [pelos EUA] em abril”, pondera.
 
Lista de propostas

Na tentativa de amenizar os prejuízos, a CNI apresentou uma lista com oito propostas à equipe econômica do governo, entre elas linhas de crédito subsidiadas, aumento do prazo para liquidação de contratos de câmbio, aplicação do direito provisório de exportar produtos a preços inferiores ao valor justo de mercado (dumping), adiamento no prazo de pagamento de tributos federais e a reativação do Programa Seguro-Emprego (PSE).

“Buscamos, com isso, mitigar os efeitos econômicos adversos aos setores afetados pelas barreiras, preservar a capacidade exportadora das empresas brasileiras e garantir a continuidade das operações internacionais em um cenário de alta imprevisibilidade”, defende o presidente da CNI, Ricardo Alban.


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Custo Brasil equivale a 20% do PIB e compromete a competitividade da indústria, aponta CNI

Déborah Souza

Custo Brasil é um dos principais entraves para a competitividade da indústria nacional. Segundo uma pesquisa inédita divulgada pela Confederação Nacional da Indústria, a CNI, 45% dos empresários industriais apontam a tributação e a complexidade tributária como as maiores dificuldades enfrentadas pelas empresas brasileiras para competir no exterior. Logo depois vem o Custo Brasil, citado por 35% dos entrevistados, seguido da falta de mão de obra qualificada, burocracia e ambiente regulatório, e insegurança jurídica.

   A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou uma pesquisa inédita que revela os principais obstáculos enfrentados pela indústria brasileira para competir no mercado internacional. De acordo com o levantamento, 45% dos empresários apontam a tributação e a complexidade tributária como os maiores entraves. Em segundo lugar está o Custo Brasil, citado por 35% dos entrevistados, seguido da falta de mão de obra qualificada (31%), burocracia e ambiente regulatório (25%) e insegurança jurídica (22%).

O chamado Custo Brasil representa uma soma de ineficiências, como entraves logísticos, excesso de burocracia, dificuldades tributárias, baixa qualidade da educação e insegurança jurídica, que encarecem a operação das empresas e reduzem a competitividade. De acordo com a CNI, esse custo já foi estimado em R$ 1,7 trilhão por ano, valor equivalente a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

O vice-presidente da CNI, Leo de Castro, explica que o Custo Brasil representa a diferença entre produzir no Brasil e produzir nos países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), considerados os mercados mais competitivos do mundo. “No Brasil, nós trabalhamos com um déficit em relação aos países da OCDE, que tira a competitividade de tudo que é produzido aqui, que faz com que os produtos também aqui produzidos fiquem mais caros para quem consome e para quem compra dentro do nosso país.”

Leo de Castro destaca que o combate ao Custo Brasil é uma agenda de redução de desperdícios, que não retira direitos, mas cria condições reais de competitividade. “Abrir mão de um quinto do PIB nacional em coisas que não agregam valor para ninguém e que tiram poder de compra da população, que tiram a oportunidade da indústria brasileira se desenvolver mais, exportar mais e se tornar mais relevante, isso tem que ser prioridade no país”, ressalta. 

Para o tributarista Gustavo Conde, coordenador Tributário do escritório Vieira e Serra Advogados Associados, a complexidade tributária é um dos maiores entraves do ambiente de negócios no Brasil. “Um dos principais fatores é a vasta legislação tributária. A reforma tributária vem para tentar melhorar isso. Nós temos muitos tributos diferentes, então, isso traz um custo operacional muito grande. O fato de termos tributos ainda em cascata, por mais que a gente aumente a tributação para empresas, quem paga essa conta no fim é o consumidor. As empresas repassam o preço dentro do produto. Isso impacta lá na frente, principalmente os mais pobres, porque a nossa tributação sobre o consumo é muito elevada. Então acaba que todo mundo arca com esse Custo Brasil”, avalia.

Custo Brasil: principais fatores

Segundo a CNI, os principais fatores que compõem o Custo Brasil incluem:

  • Complexidade tributária e custo para apurar impostos;
  • Baixa qualidade da educação e do capital humano;
  • Altos custos logísticos e de infraestrutura;
  • Dificuldade de acesso ao crédito e elevado custo do dinheiro.

Custo Brasil: avanços recentes

Nos últimos anos, a agenda de enfrentamento ao Custo Brasil avançou. Leo de Castro ressalta que foram criadas instâncias específicas tanto no Legislativo quanto no Executivo:

  • No Congresso Nacional, a Frente Parlamentar do Brasil Competitivo atua com uma agenda anual de projetos voltados à superação dos gargalos;
  • No governo federal, o Grupo de Trabalho do Custo Brasil, ligado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), monitora 42 projetos estratégicos, com potencial estimado de redução de até R$ 500 bilhões no custo estrutural.

Custo Brasil: caminhos para reduzir 

A expectativa do setor produtivo é que medidas como a reforma tributária, o investimento em logística e digitalização e a modernização das relações entre governo e empresas contribuam para reduzir o custo estrutural do país e criar um ambiente mais competitivo e atraente para investidores. 

“É uma agenda, às vezes, árida para ser compreendida pela classe política e pela sociedade, mas é uma agenda que a CNI, assim como o MBC (Movimento Brasil Competitivo) e outros institutos, têm procurado trazer luz e esclarecimento para que a sociedade compre isso e cobre para que isso, de fato, aconteça”, finaliza Leo de Castro.


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Tarifa de Trump sobre produtos do Brasil pode afetar empregos, exportações e investimentos

Ana Catarina Lima

A decisão dos Estados Unidos de elevar para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros gera preocupação na indústria nacional e pode causar prejuízos à economia brasileira. A medida, anunciada pelo governo do presidente Donald Trump, pode impactar diretamente cerca de 10 mil empresas brasileiras exportadoras, comprometer a relação histórica entre os dois países e ameaçar milhares de postos de trabalho.

 A decisão dos Estados Unidos de elevar para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros gera preocupação na indústria nacional e pode causar prejuízos à economia brasileira. A medida, anunciada pelo governo do presidente Donald Trump, pode impactar diretamente cerca de 10 mil empresas brasileiras exportadoras, comprometer a relação histórica entre os dois países e ameaçar milhares de postos de trabalho.

O alerta vem da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a entidade, a decisão foi recebida com surpresa e não encontra respaldo em dados econômicos. "Não existe qualquer fato econômico que justifique uma medida desse tamanho, elevando as tarifas sobre o Brasil do piso ao teto. Os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é muito interligada ao sistema produtivo americano", afirmou o presidente da CNI, Ricardo Alban, em posicionamento divulgado na noite da quinta-feira (9).

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no último dia 9 de julho que, a partir de 1º de agosto, será aplicada uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil. A decisão foi justificada como uma resposta à forma como o governo brasileiro tem tratado o ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado político de Trump, além de alegações de práticas comerciais “desleais”. 

Em resposta ao presidente americano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou, no mesmo dia 9, uma nota oficial reafirmando a soberania do Brasil e o respeito às instituições nacionais. Lula destacou que o país não aceitará qualquer tipo de tutela externa e que os processos judiciais relacionados aos atos golpistas de 8 de janeiro são de competência exclusiva da Justiça brasileira. O presidente também negou a existência de um déficit comercial norte-americano em relação ao Brasil, como alegado por Trump, e reforçou que a relação bilateral deve se basear em respeito mútuo e cooperação econômica.

Impactos na economia e na indústria

Na avaliação da CNI, o aumento da tarifa de importação americana impacta a economia brasileira e abala a cooperação com os EUA. Em 2024, citou a entidade, para cada R$ 1 bilhão exportado para os Estados Unidos, foram gerados 24,3 mil empregos, R$ 531,8 milhões em massa salarial e R$ 3,2 bilhões em produção. 

A CNI ressaltou ainda que a nova tarifa, se mantida, deve afetar diretamente a competitividade dos empreendimentos brasileiros. Resultados preliminares de levantamento feito pela entidade mostram que um terço das empresas brasileiras exportadoras para os EUA já relatam impactos negativos. A consulta foi realizada entre junho e começo de julho, ainda no contexto da tarifa básica de 10%.

Ainda de acordo com a entidade, os EUA são o principal destino das exportações da indústria de transformação brasileira – um setor que alcançou, em 2024, US$ 181,9 bilhões em exportações, registrando um aumento de 2,7% em relação ao ano anterior. Os dados são da Nota Técnica: Desempenho da Balança Comercial Brasileira em 2024, elaborada pela confederação. O recorde foi motivado pelas exportações de bens de consumo não duráveis e semiduráveis, que cresceram 11% em relação a 2023.

Via diplomática

A CNI defende uma resposta diplomática imediata. "Que o equilíbrio e o diálogo técnico prevaleçam com a parcimônia e a determinação necessária", avaliou Alban.

O especialista em Direito Internacional, membro da Godke Advogados, Fernando Canutto, assim como o presidente da CNI, Ricardo Alban, acredita que o melhor caminho para proteger as empresas brasileiras é a via diplomática. 

“Entendo que a única via é a via diplomática. Apesar de os Estados Unidos ter perdido, ou melhor, diminuído sua influência como potência hegemônica nos últimos 20, 30 anos. Há 30 anos, eram os Estados Unidos e os outros países. Agora, China está atrás, Índia vem logo atrás. São parceiros que já têm poder de fogo, digamos assim, já têm uma economia quase tão grande quanto a norte-americana. Então, os Estados Unidos ainda é a grande potência. Os Estados Unidos ainda controlam o dinheiro mundial, controlam o comércio mundial”, destacou o jurista.

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Portos brasileiros batem recorde histórico com 532 milhões de toneladas movimentadas em 2025

Bianca Mingote

Os portos brasileiros bateram um novo recorde nos cinco primeiros meses de 2025, com a movimentação de 532 milhões de toneladas de carga - a maior registrada na história. Segundo dados do Estatístico Aquaviário da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), o volume representa um crescimento de 0,8% em relação ao mesmo período de 2024 — que até então detinha o maior índice já registrado.

Os portos brasileiros bateram um novo recorde nos cinco primeiros meses de 2025, com a movimentação de 532 milhões de toneladas de carga - a maior registrada na história. Segundo dados do Estatístico Aquaviário da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), o volume representa um crescimento de 0,8% em relação ao mesmo período de 2024 — que até então detinha o maior índice já registrado.

O ministro dos Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, comemorou o recorde. Na avaliação dele, o resultado positivo reflete o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Governo Federal.

“O crescimento da movimentação nos portos é reflexo das políticas públicas e do crescimento da economia. Temos adotado medidas para ampliar ainda mais a capacidade de nossos portos e descentralizar a movimentação, promovendo o desenvolvimento socioeconômico em todas as regiões do país”, disse.

Para o secretário Nacional de Portos, Alex Ávila, o crescimento da movimentação de cargas nos portos do país está relacionado também ao aumento da produção agropecuária brasileira neste período do ano.  "Com toda certeza, podemos atribuir significativa parte desse aumento ao agronegócio brasileiro. Nós viemos ano após ano apresentando safras recordes e esse ano não é diferente, as expectativas são muito boas. Nós já estamos com uma movimentação excelente e devemos ainda, agora no segundo semestre, ter um aumento ainda maior na movimentação de cargas, em especial, nas movimentações de produtos dos nossos cereais do nosso agronegócio”, destacou Ávila.

Recordes recorrentes 

Conforme os dados da Antaq, houve recorde de movimentação de carga pelo terceiro mês consecutivo. Em maio, foram 118,4 milhões de toneladas movimentadas – sendo o melhor número da história para o mês e 7% superior ao mesmo período de 2024.

Entre os portos públicos, o destaque foi o crescimento da movimentação no Porto de Rio Grande (RS), com crescimento de 47% no volume de carga. O que explica este cenário é a diminuição das operações de 2024, provocada pelas fortes chuvas que impactaram o estado gaúcho em maio.

Também foi registrado o aumento do transporte de contêineres pelos portos brasileiros. Ao longo de todo o ano passado, a carga conteinerizada ultrapassou em 20% a movimentação do ano anterior. Os resultados dos cinco primeiros meses de 2025 já representam avanço de 7% em relação ao mesmo período de 2024.

Leilões

Segundo o Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), os recordes constantes na movimentação de carga estão sendo acompanhados por outras medidas que ampliam a capacidade dos portos brasileiros. 

Para 2025, há previsão do leilão do terminal de contêineres do Porto de Santos — Tecon Santos 10 — que irá ampliar em 50% a capacidade do maior porto do país.

Em setembro, será realizado o leilão para concessão do canal de acesso ao Porto de Paranaguá – considerado um modelo inédito no país. A medida também está prevista para outros quatro portos, sendo: Itajaí, Santos, Bahia e Rio Grande. De acordo com a pasta, as inovações trarão maior eficiência à movimentação de navios e cargas, permitindo inclusive a chegada de embarcações de maior porte.


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Dólar dispara e fecha a R$ 5,47 com tensão global e novo tarifaço dos EUA

Lívia Braz

O dólar começou a semana em forte alta e fechou esta segunda-feira (7) cotado a R$ 5,47, com valorização de 0,99%. O principal motivo foi o novo capítulo da guerra comercial liderada pelos Estados Unidos, que anunciaram a aplicação de tarifas de 25% sobre produtos importados de dois países asiáticos, a partir de 1º de agosto. A medida foi confirmada por meio de cartas enviadas a governos estrangeiros e acendeu o alerta nos mercados globais.

    

O dólar começou a semana em forte alta e fechou esta segunda-feira (7) cotado a R$ 5,47, com valorização de 0,99%. O principal motivo foi o novo capítulo da guerra comercial liderada pelos Estados Unidos, que anunciaram a aplicação de tarifas de 25% sobre produtos importados de dois países asiáticos, a partir de 1º de agosto. A medida foi confirmada por meio de cartas enviadas a governos estrangeiros e acendeu o alerta nos mercados globais.

A decisão do presidente Donald Trump de endurecer novamente as relações comerciais internacionais trouxe instabilidade aos investidores, que passaram a buscar segurança na moeda americana. Segundo analistas, o clima de incerteza e o tom agressivo adotado pelos EUA criaram um ambiente de pessimismo generalizado, o que impulsionou a valorização do dólar frente a diversas moedas, inclusive o real.

Cotações

A tabela abaixo mostra as cotações cruzadas entre as principais moedas internacionais e o real. Cada célula indica quanto vale 1 unidade da moeda da linha em relação à moeda da coluna.

Código BRL USD EUR GBP JPY CHF CAD AUD
BRL 1 0,1823 0,1553 0,1338 26,5977 0,1454 0,2493 0,2803
USD 5,4845 1 0,8523 0,7344 145,89 0,7973 1,3671 1,5387
EUR 6,4392 1,1732 1 0,8617 171,16 0,9354 1,6038 1,8052
GBP 7,4727 1,3615 1,1606 1 198,63 1,0855 1,8612 2,0950
JPY 3,75956 0,685519 0,58430 0,503474 1 0,5465 0,93714 1,05485
CHF 6,8788 1,2543 1,0693 0,9213 182,99 1 1,7147 1,9300
CAD 4,0117 0,7315 0,6236 0,5372 106,72 0,5832 1 1,1255
AUD 3,5682 0,6499 0,5539 0,4773 94,81 0,5181 0,8884 1

Os dados da tabela são da br.investing.com


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Ibovespa cai 1,26% com tensão global após novas ameaças tarifárias de Trump

Lívia Braz

O Ibovespa iniciou a semana em forte queda e fechou esta segunda-feira (7) com baixa de 1,26%, aos 139 mil pontos — a pior perda em um único pregão desde 21 de maio. O motivo principal foi a nova ofensiva comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, que anunciou tarifas de 25% sobre importações do Japão e da Coreia do Sul, além de ameaças de novas taxações contra países do Brics, incluindo o Brasil.

    

O Ibovespa iniciou a semana em forte queda e fechou esta segunda-feira (7) com baixa de 1,26%, aos 139 mil pontos — a pior perda em um único pregão desde 21 de maio. O motivo principal foi a nova ofensiva comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, que anunciou tarifas de 25% sobre importações do Japão e da Coreia do Sul, além de ameaças de novas taxações contra países do Brics, incluindo o Brasil.

A reação foi imediata nos mercados: investidores se afastaram de ativos de risco, ignorando até mesmo notícias positivas no cenário doméstico, como a deflação de 1,80% no IGP-DI e a revisão para baixo das expectativas de inflação no Boletim Focus. A queda foi generalizada, afetando ações da Vale, bancos e Eletrobras. Apenas os frigoríficos se salvaram, com BRF, disparando 9,37%, puxando altas mais modestas, de Marfrig e Minerva.

Os dados da bolsa de valores brasileira podem ser consultados no site da B3.

O que é o Ibovespa e como ele funciona?

O Ibovespa (Índice Bovespa) é o principal indicador do mercado acionário brasileiro. Calculado pela B3, ele reflete a média do desempenho das ações mais negociadas na bolsa, com base em critérios de volume e liquidez. O índice é composto por uma carteira teórica de ativos, que representa cerca de 80% do volume financeiro total negociado no mercado.

O que é a B3, a bolsa de valores do Brasil?

A B3 (Brasil, Bolsa, Balcão) é a bolsa de valores oficial do Brasil, sediada em São Paulo. É responsável pela negociação de ações, derivativos, títulos públicos e privados, câmbio e outros ativos financeiros. A B3 está entre as maiores bolsas do mundo em infraestrutura e valor de mercado.
  

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Coreia Produz Chips, Brasil Monta Celulares

Por que um país de 51 milhões virou potência tecnológica e o Brasil ficou na montagem?

    

5 Razões Pelas Quais a Coreia Domina Chips Enquanto o Brasil Monta Celulares

Imagem mostrando contraste entre Coreia do Sul produzindo chips semicondutores em laboratório avançado e Brasil montando celulares em linha de produção básica

Olá!

Já se perguntou por que a Coreia do Sul produz os chips semicondutores mais avançados do mundo enquanto o Brasil continua preso na montagem de smartphones e eletrônicos para marcas estrangeiras?

A divisão manufatureira entre essas duas nações revela insights críticos sobre cadeias de suprimentos globais, soberania tecnológica e estratégia econômica. Samsung e SK Hynix da Coreia controlam quase 70% da produção global de chips de memória, gerando centenas de bilhões em receita anualmente.

Enquanto isso, o setor eletrônico do Brasil—apesar de ser o maior da América Latina—foca principalmente na montagem final, importando componentes da Ásia e agregando valor mínimo. Essa dinâmica cria uma transferência massiva de riqueza: a Coreia captura os lucros de alta margem e alta tecnologia, enquanto o Brasil se contenta com trabalho de montagem de baixa margem.

As consequências se espalham por economias inteiras—afetando tudo desde balanças comerciais até independência tecnológica e competitividade de longo prazo na era digital.

Hoje, vou analisar as 5 razões fundamentais por trás dessa hierarquia manufatureira e o que isso significa para o futuro de ambas as nações.

Vamos mergulhar fundo.

Razão 1: A Coreia investiu pesadamente em infraestrutura de P&D há décadas.

A fundação do domínio coreano em chips não foi construída da noite para o dia—foi um investimento estratégico de 40 anos em infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento.

Nos anos 1980, o governo coreano lançou o Programa Nacional de Desenvolvimento de Semicondutores, comprometendo bilhões de dólares para construir instalações de pesquisa de classe mundial e atrair os melhores talentos globais. Eles estabeleceram o Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia (KAIST) e criaram incentivos fiscais para empresas investindo em P&D de semicondutores. Somente a Samsung agora gasta mais de $20 bilhões anualmente em P&D—mais do que o PIB inteiro de muitos países.

O Brasil, em contraste, historicamente investiu menos de 1,3% do PIB em P&D, comparado aos 4,8% da Coreia.

Imagem mostrando gráfico de gastos em P&D como % do PIB: Coreia do Sul alcançando 5% versus Brasil estagnado em 1%, revelando diferença de investimento

Essa lacuna se agrava ao longo de décadas:

  • Abordagem da Coreia: Parcerias governo-indústria de longo prazo focadas em tecnologias revolucionárias

  • Abordagem do Brasil: Contratos de montagem de curto prazo com empresas estrangeiras exigindo inovação mínima

  • O resultado: A Coreia possui a propriedade intelectual e processos de fabricação para chips de ponta, enquanto o Brasil depende de tecnologia importada

Quando você não investe na fundação, não pode construir o arranha-céu.

Razão 2: A Coreia construiu um ecossistema integrado de cadeia de suprimentos.

A Coreia não focou apenas na fabricação final—eles construíram um ecossistema inteiro integrado de fornecedores, fabricantes de equipamentos e indústrias de apoio.

Caminhe pelo complexo de semicondutores da Samsung em Pyeongtaek, e você encontrará centenas de fornecedores coreanos em um raio de 50 quilômetros.

Imagem mostrando vista aérea do complexo de semicondutores da Samsung em Pyeongtaek, Coreia do Sul, ilustrando infraestrutura avançada de produção de chips
Complexo de semicondutores da Samsung em Pyeongtaek

Essas empresas produzem tudo desde químicos especializados até equipamentos de fabricação de precisão e sistemas de teste. Essa proximidade reduz custos, melhora o controle de qualidade e permite ciclos rápidos de inovação. Quando a Samsung precisa testar um novo design de chip, eles podem ter protótipos em dias, não meses.

A abordagem do Brasil foi fundamentalmente diferente. O país focou em atrair fabricantes estrangeiros com incentivos fiscais para estabelecer plantas de montagem final. Mas essas plantas importam 70-80% de seus componentes da Ásia:

  • Componentes críticos: Processadores, chips de memória, displays, sensores—todos importados

  • Contribuição local: Carcaças plásticas, metalurgia básica, mão de obra de montagem final

  • Elementos ausentes: Nenhum fornecedor doméstico para componentes de alta tecnologia, nenhum fabricante de equipamentos, nenhum fornecedor de materiais

Isso cria uma armadilha permanente de dependência onde o Brasil nunca pode subir na cadeia de valor

Imagem mostrando manchete do Estadão sobre fábricas brasileiras parando por falta de componentes chineses, destacando dependência de importações eletrônicas
caption...

Razão 3: O sistema educacional da Coreia produz talentos técnicos especializados.

O sucesso da Coreia em semicondutores exigiu dezenas de milhares de engenheiros altamente especializados, e eles sistematicamente construíram a infraestrutura educacional para produzi-los.

Universidades coreanas formam entre 80 000 e 150 000 graduados em engenharia anualmente, com programas especializados em física de semicondutores, ciência de materiais e processos de fabricação. Empresas como Samsung recrutam diretamente desses programas e fornecem anos adicionais de treinamento especializado. O resultado é um pool profundo de talentos que pode inovar na vanguarda da Lei de Moore.

Imagem mostrando gráfico de pesquisadores P&D por milhão de habitantes: Coreia do Sul com 9.000 versus Brasil com apenas 900, evidenciando lacuna tecnológica

O sistema de educação técnica do Brasil, embora melhorando, não foi projetado para fabricação avançada de semicondutores:

  • Graduados em engenharia: Menos per capita que a Coreia, com especialização limitada em semicondutores

  • Parcerias universidade-indústria: Relacionamentos menos desenvolvidos entre universidades e empresas de tecnologia

  • Fuga de cérebros: Muitos dos melhores engenheiros brasileiros migram para o Vale do Silício ou Europa por melhores oportunidades

Você não pode construir uma indústria intensiva em conhecimento sem trabalhadores intensivos em conhecimento.

Razão 4: A Coreia garantiu acesso a matérias-primas críticas e equipamentos.

A fabricação avançada de semicondutores requer materiais incrivelmente puros e equipamentos de precisão que apenas algumas empresas mundiais podem produzir.

A Coreia reconheceu essa vulnerabilidade cedo e fez investimentos estratégicos para proteger suas cadeias de suprimentos. Eles investiram em empresas químicas domésticas como LG Chem para produzir materiais de alta pureza. Eles desenvolveram relacionamentos com a fabricante de equipamentos holandesa ASML (a única empresa que faz máquinas de litografia ultravioleta extrema) e fornecedores de materiais japoneses. Quando surgem tensões comerciais, a Coreia tem múltiplos fornecedores e estoques estratégicos.

O setor eletrônico do Brasil permanece completamente dependente de materiais e equipamentos importados. Quando cadeias de suprimentos globais são interrompidas—como vimos durante a COVID-19—plantas de montagem brasileiras param porque não têm alternativas domésticas:

  • Dependência de equipamentos: 100% dos equipamentos de fabricação de precisão importados

  • Dependência de materiais: 95% dos componentes eletrônicos e materiais importados

  • Resistência da cadeia de suprimentos: Virtualmente zero alternativas domésticas durante interrupções

Essa dependência torna o Brasil vulnerável a todos os choques da cadeia de suprimentos global.

Razão 5: O governo da Coreia forneceu capital paciente e política industrial.

Talvez mais importante, o governo da Coreia forneceu capital paciente de longo prazo e apoio consistente de política industrial por décadas.

O Banco de Desenvolvimento Coreano forneceu empréstimos com juros baixos para investimentos em semicondutores que não dariam retorno por 10-15 anos. O governo coordenou entre empresas para evitar duplicação dispendiosa e garantiu que focassem em diferentes segmentos de mercado. Quando a Samsung estava perdendo bilhões nos anos 1970 e 1980 aprendendo a fazer chips de memória, o governo preveniu aquisições estrangeiras e continuou apoiando a visão estratégica.

A política industrial do Brasil tem sido inconsistente e focada no curto prazo. Incentivos fiscais mudam com cada novo governo. Prioridades de investimento mudam baseadas em ciclos políticos ao invés de estratégia econômica de longo prazo:

  • Estabilidade política: A Coreia manteve apoio consistente a semicondutores por mais de 40 anos

  • Compromisso financeiro: Bilhões em capital paciente mesmo durante períodos de prejuízo

  • Coordenação estratégica: O governo ajudou empresas a evitar competição destrutiva e focar em mercados globais

Sem capital paciente e política consistente, você não pode competir em indústrias que requerem ciclos de investimento de uma década.

As implicações dessa divisão manufatureira se estendem muito além da Coreia e Brasil—elas revelam como países se posicionam na economia global para o próximo século.

A estratégia da Coreia criou soberania tecnológica e capturou as partes de maior valor das cadeias de suprimentos globais. A estratégia do Brasil criou emprego e investimento estrangeiro, mas deixou o país permanentemente dependente de tecnologia importada.

Intrigantemente, enquanto o Brasil na década de 1960 tinha renda per capita superior à da Coreia do Sul e condições iniciais aparentemente mais favoráveis para industrialização, hoje observamos uma inversão completa: a Coreia produz alguns dos bens tecnologicamente mais sofisticados do mundo enquanto o Brasil exporta principalmente commodities e produtos de montagem.

Este paradoxo de como uma economia com piores condições iniciais conseguiu realizar um catching-up tecnológico tão acelerado enquanto outra com melhores vantagens comparativas permaneceu na periferia do sistema produtivo global desafia fundamentalmente as explicações econômicas convencionais sobre desenvolvimento e aponta para mecanismos mais complexos de coordenação Estado-mercado que raramente são compreendidos em sua totalidade.

Conforme o mundo se torna cada vez mais digital, essa lacuna só aumentará a menos que o Brasil faça mudanças estratégicas fundamentais para ir além da montagem rumo à inovação e produção de tecnologias críticas.

Abraços,

Paulo Gala

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Ibovespa começa semana em leve queda de 0,11%

Lívia Braz

O Ibovespa começa a segunda-feira (19) em queda de 0,11%. Durante o pregão da sexta-feira, a bolsa brasileira caiu levemente, ainda assim fechou a semana com 1,96% de alta, o que não acontecia desde 2023.

O Ibovespa começa a segunda-feira (19) em queda de 0,11%. Durante o pregão da sexta-feira, a bolsa brasileira caiu levemente, ainda assim fechou a semana com 1,96% de alta, o que não acontecia desde 2023. 

Com o anúncio de um caso de gripe aviária detectada no Sul do país, a União Europeia já suspendeu a compra da proteína de frango do Brasil, dando sinais de alerta para o setor. Mas até agora as ações não sofreram impactos. 

Minerva até subiu 0,97%, BRF teve alta de 0,78% e Marfrig cresceu incríveis 21,35%. 

Por outro lado, as ações do Banco do Brasil foram só decepção. Despencaram 12,69% depois do balanço do primeiro trimestre, que frustrou o mercado. 

Os dados da bolsa de valores brasileira podem ser consultados no site da B3.


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Dólar começa semana em leve queda, cotado a R$ 5,67

Lívia Braz

Nesta segunda-feira (19) o dólar é cotado a R$ 5,67, em queda de 0,20%. O dólar teve uma movimentação mais tranquila na última sexta-feira, depois da alta significativa do dia anterior. A moeda oscilou pouco e terminou o dia com uma leve queda em relação ao real. Foi um dia com poucos acontecimentos importantes, o que contribuiu para essa estabilidade.

Nesta segunda-feira (19) o dólar é cotado a R$ 5,67, em queda de 0,20%. O dólar teve uma movimentação mais tranquila na última sexta-feira, depois da alta significativa do dia anterior. A moeda oscilou pouco e terminou o dia com uma leve queda em relação ao real. Foi um dia com poucos acontecimentos importantes, o que contribuiu para essa estabilidade.

Os investidores também estão atentos à situação das contas públicas. Na quinta-feira, surgiram rumores de que o governo estaria planejando ações para aumentar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — algo que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou.


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    Em média, cada brasileiro consumirá 265 ovos ao longo deste ano, dois a mais do que em 2024 e 23 a mais do que no ano anterior (2023).


A perspectiva é do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, ligado à Faculdade de Agricultura da USP.
Segundo os pesquisadores, essa tendência reflete um comportamento tradicional do brasileiro: optar pelo ovo quando o preço da carne sobe. Os cortes bovinos ficaram, em média, 20,8% mais caros em 2024, segundo o IBGE. Já o ovo de galinha teve uma queda de 4,5% no mesmo período.


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A reforma tributária, aprovada no ano passado, representa um marco histórico para o Brasil, mas sua implementação é um processo gradual e complexo.

A lei sancionada pelo presidente Lula estabelece um período de transição de dez anos para a completa adaptação do novo sistema tributário.
A principal mudança será a substituição dos atuais impostos, como ICMS e ISS, por um Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e uma Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS).
    


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    A economia chinesa surpreendeu ao atingir a meta de crescimento de 5% no ano passado, impulsionada por um superávit comercial recorde de 1 trilhão de dólares.


No entanto, a celebração é temperada por desafios internos e externos. A volta de um líder político com uma postura protecionista nos Estados Unidos promete intensificar as tensões comerciais e direcionar a produção chinesa para novos mercados.
Com a imposição de tarifas sobre produtos chineses, Pequim se vê obrigada a buscar alternativas para escoar sua produção excedente.


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